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Relatório mostra falência da Segurança Pública em MT e "explica" violência
25/03/2011 / 09:00:00
  

Um documento traz à tona a realidade sobre a segurança pública em Mato Grosso. Os números do "Mapa da Falência", como foi classificado o documento pelo presidente do Sindicato dos Investigadores do Estado, são revelados com clareza.O município de Planalto Serra, por exemplo, é uma cidade que não conhece a figura do policial civil


Dos 141 municípios de Mato Grosso, 37 não possuem Delegacia de Polícia Civil. Em 52 municípios não existem sequer um delegado de Polícia. Em outras 27 cidades não possuem escrivão. Em 20 municípios, a Polícia Civil não possui nem delegado, nem escrivão. A falência da segurança pública mostra ainda que em duas cidades não existem delegado, escrivão, muito menos investigador. Para agravar ainda mais a situação da segurança pública, a maioria dos investigadores hoje trabalha em regime de "escravidão branca".


Aliás, um documento que a reportagem teve acesso comprova que apenas 300 investigadores trabalham por dia em todo o Estado. O pior, no entanto, é que policiais civis, investigadores e escrivãs vão parar por tempo indeterminado, caso não recebam aumentos proporcionais aos que os delegados e oficiais da Polícia Militar vão receber a partir do mês que vem.


"Não temos policiais civis. A Polícia Militar também não possui homens suficientes para dar segurança ao Estado, daí os constantes assaltos, tanto na Grande Cuiabá, onde se vê pessoas morrendo todo dia, quanto no interior do Estado, onde os bandidos estão dando as ordens e deixando cidades inteiras à mercê de quadrilhas que fazem pessoas inocentes como escudos humanos e reféns", desabafa o investigador Cledison Gonçalves, presidente do Sindicato dos Investigadores da Polícia Civil de Mato Grosso.


No "mapa", que expõe a deficiência de homens para trabalhar na Polícia Civil, que hoje tem apenas 1.700 investigadores, quando já precisaria, de no mínimo oito mil, com uma média de quatro mil trabalhando por dia, aparece o que o presidente do Sindicato classifica de "falência na segurança pública do Estado".


Apesar de precisar, de no mínimo 60 investigadores, a cidade de Chapada dos Guimarães (Baixada Cuiabana, a 65 quilômetros da Capita), tem apenas 13 policiais para investigar. Com o aumento da violência local, até o Ministério Público já pensa em entrar com uma ação contra o Estado, cobrando a contratação de mais investigadores. Mesmo assim, segundo o documento, Chapada ainda é o município que mais possui policiais.


Em compensação, bem ali pertinho, existe a cidade de Planalto da Serra. Você seria capaz de responder quantos policiais existem lá para a segurança da população? Então anotem aí: nenhum. Zero mesmo de segurança pública. Cidades como Apiacás (em pleno Nortão do Estado), por exemplo, não existe delegado, muito menos escrivão. Lá, apenas dois investigadores trabalham todos os dias, de segunda a segunda, sem folga.


No "mapa da falência" da Segurança,  a cidade de Cocalinho (Nortão), não possui delegado nem investigador. Quem comanda a segurança da cidade são três escrivães.


Em Poconé (a 100 quilômetros de Cuiabá), um município de grandes proporções territoriais e habitacional, com um forte setor turístico, possui apenas um delegado, dois escrivães e cinco investigadores. Já em Livramento, um pouco antes de Poconé, a segurança é mínima. Lá não possui delegado e escrivão. Toda a segurança é feita por apenas cinco investigadores.

Um dos absurdos do "mapa da falência", segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Civil, está no município de Paranatinga, no leste de Mato Grosso. Lá tem um delegado, sete escrivães e apenas um investigador. "Lá os escrivães fazem o papel dos investigadores", lembra Cledison.


Também existem cidades de Mato Grosso onde o escrivão faz a papel do delegado, como é o caso de Santa Terezinha, ligada à Regional de Rondonópolis, no Sul do Estado. Já no Posto da Mata, na mesma região, existem apenas dois investigadores que trabalham dia e noite sem delegado e sem escrivão.

Em Guarantã do Norte (Nortão), lá a situação é inversa a de santa Terezinha. Só existe um delegado e oito investigadores. Ou seja, o delegado faz o papel de escrivã, que, por sua vez, faz o papel de investigador.


Bem aqui pertinho, a menos de 25 quilômetros de Cuiabá, no Distrito da Guia, não existe delegado. Lá só tem um escrivão que faz o papel de delegado e oito investigadores. Um pouco mais adiante, em Acorizal, também não existe delegado, só um escrivão e apenas um investigador. Em Planalto da Serra, na mesma região, não tem delegado, escrivão, muito menos investigador.


Hoje, segundo o investigador Cledison, da Polícia Civil, presidente do Sindicato da categoria, além de triplicar os números de investigadores e escrivães, o Estado precisa rever, com urgência a questão salarial dos investigadores e dos escrivães, que hoje ganham, seguindo ele, praticamente uma miséria. "Temos hoje apenas 1.700 investigadores, quando deveríamos ter oito mil. Mas apenas 1.200 estão efetivamente trabalhando. Isso nos leva a intolerância de termos apenas 300 policiais trabalhando por dia em todo o Estado num regime de trabalho normal de 24 horas de plantão e 72 horas de folga. Mesmo assim ainda temos policial que nem sabe o que é folga na vida", lembra Cledison.


Cledison também lembra que a partir de janeiro do ano que vem, os delegados de Polícia Civil e os coronéis da Polícia Militar vão ter seus salários aumentados em quase 50%". Isso, segundo o presidente do Sindicato, graças a uma lei na Assembléia Legislativa que equiparou o salário do governador de Mato Grosso aos dos delegados e coroneis.


Os delegados e coroneis vão receber mais de R$ 26 mil, igual o governador do Estado. Enquanto isso, nós não ganhamos nem R$ 3 mil, mesmo em fim de carreira. Enquanto isso, um delegado em início de careira já vai entrar ganhando mais de R$ 22 mil. Que os coronéis e os delegados ganham bem, mas nós também, pois sempre estamos na linha de frente das investigações", comenta Cledison.


OBS: Matéria publicada dia 18/12/2010

 
Autor: José Ribamar Trindade - Redação 24 Horas News
 

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