Domingos Tochetto foi Perito Criminal do Instituto de Criminalística do Rio Grande do Sul. Aposentado em 1991, participou do Congresso em que ficou decidida a criação da Associação Brasileira de Criminalística e lutou pela autonomia da Perícia. Também formado em Direito, Tochetto acredita que a satisfação do Perito deve estar no trabalho que leva à justiça e sempre em busca da verdade.
O que o levou à carreira de Perito Criminal?
Quando fiz o concurso, era formado em Biologia, na época, um dos cursos superiores que permitiam o ingresso. No curso, trabalhei quatro anos em aulas práticas com microscópios e Lupas e vi a possibilidade, dentro da criminalística, de utilizar esses conhecimentos, especialmente em algumas áreas como balística e documentoscopia.
Como foi a experiência de sua primeira ida a campo?
Foi uma ocorrência com a morte de uma senhora na rua Ramiro Barcelos, aqui em Porto Alegre. Ela morava sozinha no sexto andar de um edifício e tinha alguns problemas cardíacos. Um dia, ela encheu a banheira de água e não se sabia se ela tinha tomado um banho ou tido um mal súbito perto da banheira, onde caiu. Ninguém se deu conta disso, só quando os vizinhos perceberam o odor desagradável e chamaram a polícia. A polícia arrombou a porta e a encontrou já em um estado deplorável. Esse foi o primeiro local que tive que atender.
Do que a perícia deve se orgulhar mais?
A autonomia da Perícia Oficial. Infelizmente, alguns Estados ainda não contam com essa autonomia e os outros que tem, lidam com uma autonomia que não é plena. Essa é uma luta que a Associação Brasileira de Criminalística ajudou em muitas unidades da federação. A autonomia faz com que a Perícia tenha mais credibilidade perante a sociedade, o Ministério
Público e o poder Judiciário. Temos o exemplo recente do Rio de Janeiro, na última chacina do Jacarezinho, onde solicitaram a participação e intervenção de Peritos de São Paulo, alegando,
talvez, suspeição dos Peritos do Rio de Janeiro por fazerem parte do quadro da Polícia Civil.
O que destaca durante o tempo em que atuou?
Sou um membro participante da associação, sempre dei apoio aos presidentes e pretendo continuar assim. O trabalho da ABC agregou muita coisa, especialmente em relação aos Congressos Nacionais de Criminalística e os eventos da categoria. Em 1975, nós organizamos em Porto Alegre o 3º Congresso Nacional de Criminalística e, na ocasião, ficou decidido que seria fundada a associação, o que ocorreu dois anos depois, no 4º Congresso Nacional em Brasília. Eu
participei indiretamente da fundação da ABC, sugerindo sua criação. A partir dali eu participei a maioria dos Congressos. Eles passaram a ser realizados a cada dois anos. A partir de uma determinada época, se introduziu, entre os Congressos, a realização de seminários específicos de algumas áreas como documentoscopia, balística, morte violenta, acidente de trânsito... áreas de relevância dentro da Criminalística.
Qual virtude os novos Peritos devem cultivar?
O Perito deve ser um eterno estudioso. A maioria das ciências está em evolução muito rápida. O Perito que se contenta apenas em ir ao seu local de trabalho, realizar os laudos rotineiros, sem fazer pesquisas ou participar de seminários e congressos acabando sendo deixado para trás. Não existe mais o Perito como da época que iniciei, onde fazíamos todos os locais. Felizmente, hoje temos especializações. O Perito vai atuar em uma determinada área, como engenharia, balística ou documentoscopia. Por isso, ele precisa ser o melhor possível e o mais atualizado. Isso também faz com que os novos Peritos já tragam consigo uma bagagem do curso universitário ainda melhor do que quando me formei. Hoje há recursos que não existiam na minha época, novas tecnologias. Eu costumo dizer que se parou, regrediu. O Perito nunca pode
parar de estudar e se atualizar.
Quais lições os novos Peritos podem encontrar naqueles que vieram antes deles?
Costumo dizer que o trabalho do Perito é como um sacerdócio, ou ele se dedica ou não. Aquele Perito que realmente abraça a carreira dele, logicamente, vai encontrar momentos de dificuldade, até por contrariar — sob o aspecto técnico — superiores hierárquicos. O Perito precisa sempre buscar a verdade. A realização está na busca da verdade. A satisfação tem que ser no trabalho realizado que pôde levar à justiça. Procurando, realmente, que não seja condenado um inocente ou absolvido um culpado. O trabalho do Perito tem esse condão. Apesar de não existir hierarquia de provas, a prova pericial perfeita é muito relevante dentro de um processo criminal.
Recomenda algum livro que considera essencial para os novos peritos?
Hoje temos uma gama de livros que na minha época não existia e isso ajuda muito o Perito a se especializar. Se eu pudesse indicar um livro desses todos, seria Criminalística: Procedimentos e Metodologias, organizado por mim e pelo Alberi Espindula.