Imagine que você está diante de seus dois filhos que acusam um ao outro de terem comido um pedaço de bolo que sumiu da geladeira. João acusa José, que acusa João. Quem comeu o bolo, você se pergunta. Como descobrir?
O dia a dia de quem trabalha contra o crime por muitas vezes esbarra numa dúvida parecida: Como provar que alguém cometeu ou não um crime? Na nossa analogia ali de cima, uma empregada poderia apontar que viu um dos dois comendo o bolo na cozinha enquanto limpava a sala, mas quão confiável ela é? A testemunha sempre gera este viés e é aí que entram os peritos: a prova técnica.
No nosso caso fictício, a mãe dos meninos é uma Perita Criminal. Embora não possuísse câmeras dentro de casa, ela procurou o prato onde estava o bolo e encontrou digitais de criança, encontrou uma colher suja com glacê e colheu amostras com saliva (e, portanto, DNA) e por fim vasculhou no cesto de roupas sujas e encontrou a roupa que um deles estava usando de manhã, suja do chocolate que cobria o bolo. Todas as três evidências (Digital, DNA e roupa) apontavam para João.
Os peritos criminais buscam provas técnicas dos fatos. João com certeza tocou no prato, pôs a boca na colher, sujou sua roupa do bolo que fora comido, mas se ainda assim houver dúvidas, outros exames ainda mais específicos poderiam ser realizados. Na vida real, um acusado de violência sexual, por exemplo, pode dizer que não estuprou, que foi coagido a confessar pelo policial que o prendeu, mas a história muda quando o perito encontra o DNA dele na vítima, nas suas vestes, no local onde a mesma afirma ter sido cometido o estupro.
Ainda assim, ano passado, a Secretaria de Estado de Segurança Pública fez uma pesquisa interna sobre a percepção de violência em algumas cidades do estado. Em um dos recortes apontou que a Politec é uma das instituições menos conhecidas pela população, talvez pela própria discrição e sigilo que a atividade exige, bem como o próprio perfil técnico dos peritos, necessário à profissão.
O Sindicato dos Peritos Criminais de Mato Grosso quer dar mais visibilidade ao trabalho desses profissionais essenciais para a segurança pública. Fazer perícia tem um custo pessoal e financeiro e, embora o Governo tenha trabalhado na recomposição dos quadros e orçamento das polícias, ainda não percebeu que sem a perícia criminal, não dá para dizer quem comeu o bolo.
Antonio Magalhães é físico formado pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Unesp. É Perito Oficial Criminal e presidente do Sindicato dos Peritos Criminais de Mato Grosso (Sindpeco).
Autor: Hipernoticias