O trabalho complementar entre as perícias de local de crime, de biologia molecular e antropologia forense contribuiu de maneira eficaz para o processo de investigação conduzido pela Polícia Judiciária Civil, dos crimes que resultaram na morte de três pessoas na Fazenda Sapopema, em Planalto da Serra (256 km ao Sul)
As análises periciais começaram no local, no dia 14 de maio de 2017, com a coleta das possíveis provas de um crime ainda obscuro na ocasião, mas que deixaram vestígios suficientes para a sua materialização.
Inicialmente, a Politec foi acionada para atender a uma ocorrência de encontro de cadáver na propriedade, após o desaparecimento de um homem que era arrendatário de parte do terreno da fazenda. O cunhado da vítima havia notado que ele não havia retornado após realizar um serviço na fazenda, e ao procurá-lo, se deparou uma grande fogueira na qual a vítima estava. Em seguida, a testemunha acionou a Polícia Militar.
Segundo o perito criminal Daniel Soares, os desafios da ocorrência começaram no acesso ao local do crime, que entre deslocamento e perícia levou cerca de 24 horas. Porém, ao terem acesso à propriedade onde havia uma casa, a primeira mancha de sangue localizada conduziu o perito às demais evidências que nortearam as investigações. “Ao adentrarmos a residência encontramos um local onde havia um freezer, e um espeto com supostas manchas de sangue. Recolhi o espeto, e amostras de sangue para exames no Laboratório Forense. Também foi encontrado um óculos próximo a uma panelas, que conforme testemunhas, pertenciam ao proprietário da residência, indicando que a pessoa esteve no local’’, disse.
Na parte externa da casa, a equipe de investigação seguiu a trilha de uma amostra de sangue que levou ao primeiro local de queima. Em meio às cinzas, foi encontrado tambor de óleo, utilizado como acelerante da queima, uma câmara e aros de pneu queimados, fragmentos de ossos, e um pedaço de tecido queimado com resquícios de sangue. Todas as amostras foram recolhidas e lacradas. “Encontramos diversos fragmentos de câmaras de pneus, que eram compatíveis com as câmaras de pneus que haviam no local’’, comentou.
Ainda nos arredores da residência, a equipe se deparou com o segundo local de queima. Maior e com mais elementos, entre eles um corpo humano em carbonização. Os vestígios que sobraram após a contenção da queima foram coletados e lacrados, entre eles amostras de ossos, como um crânio, e uma bota, que poderia nortear a identificação da vítima. “Constatamos que a vítima foi colocada entre os pneus devido ao estado de carbonização uniforme do corpo e a posição em que se encontrava no meio dos pneus’’, observou o perito.
A posição dos vestígios e a quantidade de sangue que continha no segundo local levaram o perito e os investigadores a reforçarem a hipótese da presença de mais de uma vítima do que inicialmente havia sido levantada. ”A perícia foi muito importante porque ajudou a mapear o local inteiro e a entender um pouco de como foi a possível dinâmica do fato. A gente mostrou que como haviam dois locais de queima com manchas de sangue indicando a possibilidade de mais de uma pessoa envolvida no caso. No local, o investigador saiu com outra ideia do que poderia ter acontecido’’, destacou Soares.
DNA
No Laboratório Forense da Politec as amostras recolhidas na cena do crime começaram a ser analisadas em busca de vestígios de DNA, para a identificação das possíveis vítimas. Os materiais chegaram ao Laboratório Forense total ou parcialmente carbonizados, dificultando as análises biológicas e de DNA. Através de exames minuciosos e técnicas apropriadas, foi constatada a presença de sangue humano em um facão, um espeto e um recorte de tecido.
O perfil genético do sangue impregnado no facão foi compatível como sendo de Claudinei Pinto Maciel (caseiro), e o perfil genético obtido do sangue humano impregnado no fragmento de tecido foi compatível como sendo de Tirço Bueno do Prado. Já o perfil genético obtido do sangue humano impregnado no espeto foi compatível como sendo de Joneslei Bueno do Prado, ou seja, através dos exames de DNA pode-se materializar a presença de três pessoas na cena do crime.
Quase um ano depois do desaparecimento dos fazendeiros foram encontrados ossos com sinais de carbonização no rio “Mata Grande”, que estão sendo analisados pelo Gerência de Perícias em Biologia Molecular da Politec.
A quarta vítima é o advogado Sílvio Ricardo Viana Moro, que foi morto no dia 18 de maio de 2016. Seu corpo foi localizado, decapitado, no dia 19 de julho de 2016, na Estrada do Lago do Manso, nas proximidades da comunidade Bom Jardim, em Chapada dos Guimarães. Ele foi assassinado por tomar conhecimento das mortes e não concordar com os planos dos criminosos em forjar o contrato de arrendamento da fazenda da família Prado.
Já no caso do advogado Silvio Moro, um perito criminal se dirigiu até a cidade de Votuporanga, no interior de São Paulo, com a finalidade de colher o material genético dos possíveis familiares da vítima encontrada já em estado de decomposição em local de crime. Através do exame de DNA constatou-se que o material genético obtido da vítima era compatível com um filho biológico de Laudemira Viana Moro.
Antropologia Forense
Os ossos encontrados no Rio Mata Grande foram encaminhados ao setor de Antropologia Forense, da Diretoria Metropolitana de Medicina Legal, no dia 03 de maio de 2017, para a identificação da causa da morte. Conforme o laudo pericial, constatou-se que a vítima sofreu traumatismo craniano por instrumento de ação pérfuro-contundente (arma de fogo). A avaliação da morfologia permitiu afirmar tratar-se de uma ossada humana.
Uma investigação desenvolvida pela Diretoria de Inteligência da Polícia Judiciária Civil com a Delegacia de Chapada dos Guimarães (67 km ao Norte) foi concluída com o indiciamento de cinco pessoas envolvidas no desaparecimento e morte de dois fazendeiros, um vaqueiro e um advogado. O inquérito policial foi encaminhado ao Poder Judiciário de Mato Grosso, na terça-feira, 1 de agosto de 2017.
Inquérito
Pelos quatro homicídios, foram indiciados os executores Mário da Silva Neto e Thiago Augusto Falcão de Oliveira, que estão presos preventivamente. Além dos assassinatos, eles vão responder ainda por subtração de bens e veículos pertencentes às vítimas, ocultação e destruição de cadáver, falsificação de documentos e associação criminosa. Estes últimos crimes também foram atribuídos a Rodinei Nunes Frazão, 48 anos, Evangelista Matias Sales e João Edgar da Gama.
O delegado Luiz Henrique de Oliveira, Coordenador de Inteligência da Polícia Civil, destacou a complexidade da investigação e os esforços de todos, polícia e perícia, nos esclarecimentos dos crimes, em resposta a angústia das famílias.
“Apesar de toda complexidade dessa investigação foi possível estabelecer com segurança a materialidade dos crimes investigados, possibilitando trazer à tona a verdade dos fatos, fornecendo aos familiares dessas quatro vítimas uma resposta segura sobre a ocorrência dos crimes, todos hediondos, e sua autoria”, afirmou.